A
lira de Apolo
Riddle
Uma coisa
que nunca foi contada nos livros, ocultado de todos e esquecido pelas pessoas,
foi um fato que aconteceu na vida de um jovem estudante de uma escola de sábios
magos na Grécia.
Essa história
aconteceu a muitos anos atrás em um dos jardins hoje proibidos á
visitas.
Havia, naquela época uma disciplina muito apreciada pelos estudantes
da magia: a Música. Diziam que a maior magia existente era o som que
emanava das notas musicais, pois era um poder puro e sempre, novo.
Uma magia tão poderosa que não atacava nada senão a alma.
Podia-lhe fazer sentir uma puríssima paz interior ou mergulhar num profundo
desespero, por isso era uma matéria fortemente censurada a aqueles que
realmente tinham o poder de controlar seus próprios sentimentos e transmití-los
assim para as notas musicais.
O professor de Música, Apolo, era um homem muito gentil. Era muito admirado
por todos os alunos, possuidor de uma beleza sempre jovial, era encantado com
o dom de a todos alegrar com suas doces notas.
Possuia ele, uma magnífica lira. Uma lira onde ele, somente ele, poderia
tocar. A música que emanava do instrumento mágico, não
era percebida por ouvido algum, apenas pelos mais puros corações.
Um instrumento raríssimo no mundo da magia. Muitos segredos guardavam
esses instrumentos. Tantos, que muitos foram queimados para jamais serem ouvidos.
A lira do professor Apolo, emitia belíssimas notas que todos na escola
admiravam, fazia todo dia cansativo valer a pena, pois sempre, antes de dormir
todos esperavam para ouvir em suas camas a música penetrar seus corações
cansados. Dormiam um sono profundo e acolhedor.
A disciplina era fortemente concorrida, eram pouquissimas as vagas. Apenas nove
eram aqueles aceitos pelo professor Apolo. Isso, pois os estudantes de Música
tinham que obter uma plena sensibilidade musical, e nenhum, repito, nenhum aluno
daquela escola escola era tão merecedor de estar onde estava quanto Tom.
Sem dúvidas, Tom era o preferido do professor Apolo. Ele, recebia exclusivas
aulas particulares durante os fins de semanas, ficava encarregado de monitorar
todos os alunos em qualquer viagem do professor e sem dúvidas era o possuidor
de uma música tão bela quanta a do próprio maestro.
Certa vez, em uma dessas aulas particulares, Tom encheu-se de tentação
e fitou a lira mágica do professor.
Este, presenciando a cena, ralhou-lhe.
- O que pensa está fazendo?
- Nada - respondeu timidamente o aluno.
- Você é muito ambicioso Tom, essa lira não serve para ninguém
ambicioso. Não deixe por ela ser tentado!
- Perdão, isso nunca mais vai acontecer.
Mas as palavras de Tom não eram verdadeiras. Toda oportunidade, ficava
ele a olhar para o precioso instrumento do professor Apolo, querendo a todo
custo tocá-lo. Alguma coisa, chamava seu nome através de notas
musicais. Notas que perteciam aquelas cordas.
- Um dia - dizia para si mesmo - tocarei ela. E Apolo se curvará diante
de minhas notas.
As aulas permaneciam as mesmas. Três vezes pela semana cada aluno se reunia
individualmente com o professor Apolo na misteriosa sala de Música, que
era na verdade um lindo jardim florido perto da escola. O professor era muito
severo, e mesmo sempre começando com nove alunos no começo dos
anos, sempre terminava com três ou quatro. Isto, pois, não tolerava
alunos pouco dedicados.
Ás sextas, as aulas eram sempre em grupo, onde o professor ensinava teorias
aos alunos sobre a música.
Em nenhuma dessas aulas os alunos tinham permissão para tocar ou olhar
para o magnífico instrumento do professor, este era exclusividade sua.
Mas Tom parecia não entender isso.
Certo final de
semana, desafiou o professor.
- Quero tocar sua lira!
Apolo riu.
- Quer mesmo?
- Sim.
- Pois não pode!
Tom fitou-lhe os olhos com terror.
- Quero tocar sua lira!
- Disse-lhe que não pode!
- Não me interessa, quero tocar sua lira!
O professor mirou-lhe um olhar manipulador, mas Tom nem se quer piscou. Voltou
a dizer:
- Irei tocar sua lira!
Apolo olhou para Tom e se aproximou.
- Tão jovem, tão talentoso, tão belo... Mas, essa sua ambição...
Tom continuou fitando perigosamente o professor.
- Toque para mim Tom, toque algo que me faça relaxar.
Tom sorriu de leve e deu um passo em frente a lira mágica.
- Não! - informou o professor - toque em sua lira, se você conseguir
fazer uma música mais bela que a minha, darei-lhe o meu instrumento.
Ameaçado pelo desafio, o jovem recuou para seu habitual lugar. Fechou
os olhos e tocou as cordas...
Naquele momento uma linda música suave fora ouvida. Uma música
doce e ao mesmo tempo estremecente.
Apolo ouviu cada nota de Tom. Enquanto ouviu Tom tocar, sentou-se ele em um
banco de pedra e começou a tocar seu próprio instrumento. Nunca,
em nenhuma noite uma música fora tão bela e magnífica.
Cada nota fora tão bem executada que a música do estudante cessou
para ouvir aquele misterioso som.
A música conseguiu paralisar Tom, fez-lhe derramar lágrimas no
jardim.
Mas este logo as enxugou.
Tom não desistiu. Tocou com força as cordas do instrumento. E
o som saiu ruidosamente do instrumento. Era uma música poderosa e forte
que por um segundo palideceu o grande maestro.
Os olhos de Apolo se enfureceram e seu dedos projetaram notas jamais ouvidas
em canto algum, ele produzira um som tão majestoso que Tom caiu no chão,
chorando.
Apolo parou de tocar, arrependido.
- Perdão, perdão! Perdoe-me Tom, perdoe-me por fazer-lhe escutar
tão terrível som.
Tom tinha um olhar fadigo e desanimado.
- Perdoe-me, perdoe-me!
- Toque para mim - pediu Tom - algo doce, suave, para que eu possa me recuperar.
E o professor obedeceu. Tocou-lhe suaves notas que tocaram-lhe o rosto e arrupiaram-lhe
a nuca. Tom se sentiu vivo e feliz.
Apolo, dispensou
todos os seus alunos. Dedicou-se somente a Tom. Este, assistia cada aula e a
cada nota com muito mais emoção.
Certa manhã, incomodado com algo, o aluno sentou-se ao lado do professor.
- Não Tom, por favor, não posso deixá-lo tocar.
- Não vou tocar. Quero apenas seguir seus dedos.
Sem respostas, Tom posicionou suas mãos em cima dos dedos do professor
e este tocou-lhe um linda música.
Antes do final das notas, Tom encostou seus próprios lábios no
rosto alvo do professor.
- Mas...?
- Continue tocando...
Tom beijava-lhe a face enquanto o professor tocava sua poderosa musica.
Ao final desta, Apolo virou o rosto e fitou o olhar próximo do aluno.
Magicamente, o som continuava a tocar em suas almas, mesmo estando a lira intocada.
Os dois se olharam por muitos minutos, atrevendo-se a encostar de leve os lábios.
Tom não esperou permissão, beijou-lhe os lábios.
O professor, a princípio cedeu, mas quando a música em seu coração
cessou, ele também despertou.
- Não!
- Sim, você quer!
- Não posso...
- Podes!
- Não, Tom, você não sabes!
Tom despertou e compreendeu que o professor privara-lhe de algum segredo.
- Por que?
- Uma mulher...
- Quem?
- Não posso dizer-lhe, Tom... Não posso...
- Quem?
- Dafne, Dafne...
O professor deixou escorrer lágrimas em seus olhos.
- Quem ela é, diga-me!
- Uma mulher, que foge do meu amor...
- Como? Me diga, como alguém consegue não te amar?
- Ela... Ela tem ódio de mim.
- Mas, como? Me diga! Como isto é possível?
- Dafne... Oh, como eu a amo! É para ela que todas as noite toco minha
música.
Tom sentiu-se traído.
- Onde ela está? - perguntou o jovem aluno.
- Longe, muito longe!
- Onde?
- Ela mora nas colinas, próximo a cidade de Atenas.
- Mas... por que não vais atrás dela?
- Eu vou, eu vou... Mas, ainda é cedo...
- Professor, perdoe-me. Mas... Eu sinto algo por ti.
- Eu sei, Tom. Eu sei.
- E o que faço eu?
- Se vingue de mim! Toque algo para que descontar esse seu peso. Sou eu quem
vos digo, a lira alivia esse amor.
Tom pegou sua lira, mas antes de tocar Apolo disse-lhe:
- Não... Toque minha lira. Toque algo belo, algo que me faça lembrar
de Dafne.
Enfurecido de raiva e ciúmes, Tom fez do seu instrumento sua arma, um
som forte e grosseiro fora-lhe submetido. Ele odiou a memória de Dafne,
quem quer que ela fosse. Sua música conseguiu chegar então a Atenas
e caminhar pelas colinas ao sul. Sua música poderosa e raivosa encontrou
um velho casebre onde vivia uma belíssima moça.
Foi então que Apolo deu por si.
- Não, não! - Gritava Apolo. - Não faça isso!
Mas era tarde, o majestoso som da lira fizera um estrago maior. Roubara a vida
de Dafne.
Quando Tom parou de tocar, lágrimas de sangue escorregaram de seus olhos.
- Você a matou! Você matou Dafne!
- Perdoe-me, perdoe-me!
- Você não conseguiu resistir ao poder da lira. Você transformou-a
em uma arma.
- Ó, Apolo, perdoe-me.
- Não tenho mais motivo para viver!
- Não, não digas isso. Eu estou aqui. Eu prometo lhe amar.
- Não consigo amar a mais ninguém, apenas a Dafne. Maldita! Maldita
serpente que me jogou tal feitiço, fez perder-me o juízo.
Percebendo as terríveis coisas ditas a sua própria mulher, arrependia-se.
- Não. Perdoe-me meu amor. Perdoe-me, Dafne.
- Ó, professor.... Ó, Apolo. Eu quem devo pedir-lhe perdão.
Eu matei-lhe a razão de viver.
Chorando, Apolo desabafa...
- Pois eu, irei lhe dar o mesmo castigo, Tom. Tirarei-lhe aquilo que é
a razão de seu viver.
Ao dizer isso, parti-lhe a Lira em dois pedaços e esta desfalece assim
como seu músico.